sexta-feira, 18 de abril de 2014

homem de bronze



guardas tanta mágoa de um amor mudo que o teu coração se desfolhou. oh... mas vais deixando para trás o silêncio nas ondas que nascem dos teus remos. era assim que eu te via: como um homem metálico, cujo tremor do sorriso nos tingia de um brilho acobreado. um homem de metal navegando o tempo e as estações. pensei, que carregasses nas mãos os calos da ternura. e que nos lábios trouxesses a dormência do Outono, a quieta lembrança da mulher que não os beijou a tempo, que não te acudiu debaixo das àrvores que se desfolhavam como tu. tu, um peregrino que desconhecia os trilhos das próprias mãos, mas que se deitou outrora à sombra das mãos dela. e era assim que eu via esse amor de maçã de verão, tão sublime e distante como se partisses numa nau de cada vez que os vossos olhos se encontravam. o tempo, era uma estrada de terra batida na periferia das emoções; um ciclo empoeirado que te levava incessantemente de volta ao coração da cidade. mas tu, o homem de bronze, sacudias os bolsos que te pesavam de vazio e vias o por do sol como uma saudação: saudando o infortúnio da tua pele tão triste e cálida como ele. e bebias dos seus últimos raios de luz como um amante que olha para trás num último adeus. tu, que todos os dias te desfolhavas de força e expunhas a tua verdadeira pele, homem de bronze. 

iolanda oliveira