guardas
tanta mágoa de um amor mudo que o teu coração se desfolhou. oh... mas
vais deixando para trás o silêncio nas ondas que nascem dos teus remos.
era assim que eu te via: como um homem metálico, cujo tremor do sorriso
nos tingia de um brilho acobreado. um homem de metal navegando o tempo e
as estações. pensei, que carregasses nas mãos os calos da ternura. e
que nos lábios trouxesses a dormência do Outono, a quieta lembrança da
mulher que não os beijou a tempo, que não te acudiu debaixo das àrvores
que se desfolhavam como tu. tu, um peregrino que desconhecia os trilhos das próprias mãos,
mas que se deitou outrora à sombra das mãos dela. e era assim que eu
via esse amor de maçã de verão, tão sublime e distante como se partisses
numa nau de cada vez que os vossos olhos se encontravam. o tempo, era uma estrada de terra batida na periferia das emoções;
um ciclo empoeirado que te levava incessantemente de volta ao coração
da cidade. mas tu, o homem de bronze, sacudias os bolsos que te pesavam
de vazio e vias o por do sol como uma saudação: saudando o infortúnio da tua pele tão triste e cálida como ele. e bebias dos seus últimos raios de luz como um amante que olha para trás num último adeus. tu, que todos os dias te desfolhavas de força e expunhas a tua verdadeira pele, homem de bronze.
iolanda oliveira